Review: Greenwood, de Michael Christie
What if family isn’t a tree at all? What if it’s more like a forest?
O livro
Uma saga familiar sobre uma família no ramo de madeira não poderia ser de outra forma. Ao buscar descobrir o que acontece com a família Greenwood, o leitor se depara com um livro que se transforma, quase que literalmente, em um tronco de árvore o qual devemos ir descascando, camada por camada. Mas, realmente, não é uma árvore. É uma floresta.
“She’s always believed that most people’s lives are lived as one great refutation of the ones that came before them”
Dessa premissa, Greenwood faz seus personagens. Uma grande batalha de tese e antítese que se espalha geracionalmente: árvores são um ser vivo ou são ferramentas para a vida do homem? Devemos seguir nos ramos dados deixados nossa família?
Cada personagem tem uma resposta: o oposto do que a geração anterior acreditava. Mas com cada um, em cada época, o livro trata de seus problemas particulares:
Como um lenhador ao executar seu primeiro golpe com o machado, você sabe que não tem mais volta após ler a primeira página de Greenwood. Agora que começou, que retirou a primeira camada protetora, você deve continuar. É assim que o livro te propulsiona por suas páginas e por suas gerações.
“A Tree will tell you everything you need to know about the variations of prosperity.”
Cada golpe revela mais. Mais anéis aparecem. Você para, e começa contá-los. Começa a perceber os anos de abundância e de seca. Os personagens aparecem. Primeiro os mais recentes. Você inicia o livro sabendo como ele acaba. Do outro lado da árvore, tem novamente a casca. Mas isso não te desmotiva. Teu caminho não é pra fora, mas pra dentro.
Você lê inicialmente sobre Jake Greenwood em 2038, guia florestal da última floresta em um mundo deserto de árvores. Ela vendeu sua integridade, seu cuidado pelas árvores que ama para pagar seus empréstimos estudantis. O que resta pra ela? Sem raízes firmes, a única coisa que ela encontra é um diário. Você, como ela, quer conhecer mais da história de sua família e, para isso, precisa adentrar mais árvore. Agora são dois segurando o machado.
Mais um golpe, estamos no meio da crise de 2008 acompanhando a morte lenta de Liam Greenwood, o pai ausente de Jake. Um carpinteiro que iniciou no ramo para provocar sua mãe, “guerreira das árvores”, Liam se encontra no chão com a coluna quebrada após cair de um andaime e as memórias que ele lutou tantos anos para esquecer – sua relação complicada com a mãe, seus anos de abuso de opioides, sua filha abandonada – começam a voltar. Mas isso ainda é apenas parte da história.
Outro golpe e contamos 64 anéis. Estamos em 1974 na velha van de Willow Greenwood. Após doar toda a fortuna de seu pai, Harris Greenwood, dono de um império madereiro, Willow faz de tudo para tentar concertar os erros dele. Esse fazer de tudo é, na verdade, protestos que bloqueiam ruas e despejar açúcar no tanque de combustível de grandes tratores e serrarias. No meio disso, ela busca seu tio, Everett Greenwood, que acaba de sair da prisão após 38 anos. Por que ele está na prisão? E por que ele age estranho com a Willow?
Agora os anéis escondem mais do que respondem. É necessário ir mais fundo. Mais um golpe, diretamente para 1934.
Everett Greenwood, após voltar da Grande Guerra não consegue se acostumar com a vida em sociedade novamente. Abandonando seu irmão que acabou de começar uma empresa madereira, Everett vaga pelo Canada, bêbado e sem rumo, até se estabelecer num pequeno lote sem uso de um outro grande empresário. Certa noite, Everett encontra preso numa árvore, um saco com um bebê. Colocado lá para morrer, Everett considera deixá-lo ,as o pouco de humanidade que ainda lhe resta o impele a, pelo menos, tentar achar uma boa casa para esse bebê. Assim, Everett se encontra no meio de uma trama que não vai deixá-lo fugir, mas vai transformá-lo.
"… she as remade him into a new kind of creature entirely. Not a good man. Nor one worthy of any respect or adulation. But one who values the life of another above his own."
Mas agora, você chegou no centro da árvore. O que restou de seu tronco não aguenta mais seu peso. Estalos ecoam e árvore começa a tombar. Primeiro devagar, mas quanto mais inclinada, mais rápido o que restou de seu tronco se rompe e menos suporte ela tem. Assim, anéis aparecem em uma velocidade que seu machado jamais poderia sonhar, e que você não estava preparado para vê-los ainda.
Assim, Greenwood, te propele freneticamente após revelar seus segredos pois apenas isso, você percebe não é o suficiente. Não importa mais responder as perguntas, mas agora você quer ver como essas perguntas surgiram.
Pensamentos finais
“I wish it need not have happened in my time," said Frodo. “So do I,” said Gandalf, “and so do all who live to see such times. But that is not for them to decide. All we have to decide is what to do with the time that is given us.”
No meio de tudo isso, Greenwood não se segura das críticas que pode fazer sobre o mundo ao redor de seus personagens. Você percebe as épocas cuidadosamente escolhidas. O pós primeira-guerra; a crise do petróleo; a crise de 2008; “o intemperismo” – nome da crise ambiental de 2038.
Nenhum personagem tem uma vida fácil. Toda geração pensa que é a última geração, e toda geração tem motivos para isso. Mesmo assim, eles persistem. Tentam achar forças, criar raízes e plantar novas árvores.
Ao final, Greenwood é, acima de tudo, um livro sobre esperança. Sobre o crescimento de novas árvores. Sempre podemos plantá-las e regá-las com nossas ações. Os tempos serão sempre difíceis, as condições sempre precárias. Queremos acreditar que, no futuro, será mais fácil, mais “normal”. Mas percebemos que não existe normalidade. Nunca existiu.
“There aren’t any normal lives, son. That’s the lie that hurts us most”